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Ar Fresco

terça-feira, abril 12, 2005

O Problema das Letras/Literaturas (II)

Depois de num primeiro post [O Problema das Letras/Literaturas (I)] ter denunciado o "êxodo" para as áreas das Humanidades, como fuga à Matemática, gostaria de continuar a desenvolver este assunto.

Quais a motivações que levam um aluno do secundário a eleger as Letras como opção preferencial no ensino superior? Hoje em dia muito poucas. Contudo, a principal razão continua a ser o ensino. Apesar das constantes notícias sobre o desemprego nesta área, alguns alunos (cada vez menos) tendem a escolher esta área.

Ora o primeiro choque é a desilusão perante os curricula das diversas universidades, pois: uma grande maioria dos cursos já não é actualizada há algum tempo; a grande componente teórica dos cursos reforça o distanciamento dos alunos; e, por fim, a falta de autores contemporâneos (do século XX, por exemplo), a não ser no quarto ano ou em estados mais avançados de aprendizagem (pós-graduções, mestrados, doutoramentos), afasta os alunos de alguns autores.

A tudo isto junta-se a falta de exigência crítica individual de alguns professores que prejudica a evolução dos alunos e cria um ciclo de "decorar-aprender a debitar-esperar reprodução exacta dos futuros alunos". Ou seja, impede-se a inovação crítica. Muitos professores preferem que alunos saibam debitar os que lhes é dito ao invés de, mesmo errando, procurarem apresentar diferentes pontos de vista. O facto de as turmas nestes cursos rondarem os 30/40 alunos, em vez de 15/20, impede a participação de todos os intervenientes no processo de aprendizagem.

Dir-me-ão que talvez seja utópico, não exequível quer pedagógica, quer financeiramente, mas com a redução brutal do número de alunos poder-se-ia aproveitar este factor para melhorar a qualidade do ensino. Por outro lado, ajudaria a desmistificar a "subjectividade" (enquanto termo pejorativo) das Letras e da exegese dos textos, pois tal como noutras áreas estas carecem de fundamentação crítica e objectiva.

Resumindo, para todos os "corajosos" que optaram pelas Letras, enquanto opção prioritária, a Faculdade apresenta-se-lhes como uma grande desilusão. Perante isto, em que medida isto se reflecte no futuro enquanto pedagogos, ou profissionais de outras áreas?

Num próximo post desenvolverei a questão das saídas profissionais e como isso se articula com esta segunda parte.

sexta-feira, abril 08, 2005

Sem palavras...

Após ler esta notícia dá-me vontade de emigrar!!!

Neste país não há uma verdadeira autoridade de concorrência, se não isto não acontecia. É incrível, mas desde a liberalização dos preços das gasolineiras, nunca esta alcançou um valor mais baixo. O livre estabelecimento dos preços em vez de provocar uma concorrência pelo preço mais baixo, como aconteceu noutros sectores, promoveu o cartel.

Bem sei que o petróleo tem atingido preços exorbitantes e que o imposto é uma percentagem elevada dos preços, mas já tenho saudades do preço estabelecido pelo Estado. Afinal de contas, e o mais triste, é que cada vez que aumentam os combustíveis não é só os automobilistas que sofrem... Dentro de poucos dias haverá diversos aumentos de produtos, devido ao aumento do custo do transporte...

Proponho um boicote total aos postos de combustível portugueses. Vamos todos dar o nosso dinheiro a Espanha, dentro de pouco tempo compensará os quilómetros...

Lá diz o ditado, quem tudo quer...

segunda-feira, abril 04, 2005

O ensino é "básico"?

O Ademar, no seu excelente Abnóxio, lançou um apelo à blogosfera para que se reflectisse sobre o método de ensino durante o Básico.

Deixo um aperitivo:
O que importa é que, ao fim de nove anos, em todas as áreas curriculares, os alunos atinjam as competências previstas no currículo nacional para o ensino básico. Essa é (ou deveria ser) a única fronteira dos alunos (e elevando sempre os patamares de exigência e os desafios de aprendizagem para todos aqueles que, em determinadas áreas, chegam lá mais cedo).

Quanto a mim este é o cerne do problema do ensino. O Superior queixa-se da falta de qualidade dos novos alunos; o Secundário "idem, idem, aspas, aspas" até que o problema chega finalmente ao Básico.

Tal como outros sou fruto de uma geração que foi educada na monodocência. No que me diz respeito, tive sorte e uma professora primária que me deu, julgo, excelentes bases, embora sofresse ainda do estigma de uma disciplina mais rígida.

Porém se todos os sectores da sociedade se têm evoluído e modernizado, não estará na altura de acontecer o mesmo no ensino? É que já cansa só se alterarem os programas? Então e o método?

A acompanhar com muito interesse...

Revista "Atlântico" e site do "Público"

Revista Atlântico

Na semana passada surgiu uma nova revista, a Atlântico, que procura ocupar um espaço no mercado que diz estar excessivamente ocupado pela esquerda. Como seria expectável, vejo blogues de direita a corroborarem esta opinião e blogues de esquerda que defendem o oposto.

Não quero entrar nessa cega discussão, acho que está apenas equilibrado. Contudo, é um bom sinal aparecer uma publicação que se afirma desde o número um como ideologicamente marcada. Estou farto de jornais e revistas às quais não se conhece a sua posição editorial (estatuto) perante certos acontecimentos, eleições etc.

Num outro aspecto, julgo que foi um pouco de mau gosto as primeiras "cartas de leitores defuntos". Se é legítimo o recurso ao humor, houve momentos que roçaram o insulto. E a ideia de criar um inimigo invisível, uma certa esquerda, também me parece perigosa... Aliás estranho os movimentos do contra, por oposição aos construtivos...

Site do Público

Depois de muito resistir, por imperativos de rentabilização do respectivo site, o Público cedeu e agora apresenta os seus conteúdos apenas a assinantes. Tenho pena... e assim acabará uma das grandes "fontes" da blogosfera...

Acredito que de outro modo, o site não seria rentável/suportável financeiramente. Por outro lado, o site vai com certeza perder a maioria da audiência que se mudará para outras freguesias... A ver vamos...

sexta-feira, abril 01, 2005

Extrema unção para estes "especiais" noticiosos

Ontem, enquanto se esperava a todo o momento a morte do Papa, assitimos aos piores momentos telivisivos da RTP e SICs (generalista e Notícias), no que respeita a informação.

Não me querendo pronunciar sobre se o Papa deveria ou não ter andado a fazer esforços não aconselháveis à sua provecta idade e perigoso estado médico, parece-me que as televisões procuraram arranjar uma "acontecência".

Ou seja, ao anúncio de uma morte iminente do Papa, preparam-se os documentários sob forma de requiem, convidaram-se personalidades da Igreja portuguesa, fizeram-se ligações constantes a Roma, a todo o lado, quando tal não o justificava, pois presumo que esses repórteres teriam a linha aberta. Enfim, traçaram-se várias conjunturas e até se fizeram balanços deste Pontificado, mas a vontade férrea do Papa foi contra uma morte anunciada e, no momento em que escrevo, continua vivo e a lutar pela vida.

Quer a RTP, quer a SIC têm canais noticiosos (RTP-N e SIC Notícias, respectivamente) e julgo que só faria sentido fazer um especial nas generalistas aquando da confirmação da morte. Quando não há notícia, acaba-se uma noite a discutir a diferença entre Extrema e Santa Unção e até há lugar para um médico português comentar uma hipotética infecção urinária e uma hipotética reacção a um antibiótico...

E assim vai o jornalismo telivisivo...

P.S.- Nem quero imaginar se a TVI também se tivesse juntado...